sábado, 23 de junho de 2012

Crônica sobre um casamento em Sofia, Bulgária, junho de 2012

Em um sábado cheguei em Sofia, capital da Bulgária. O tempo que dediquei aprendendo o alfabeto cirílico valeu a pena. É verdade que ainda não consigo ler com fluência, mas se não soubesse as regras para decodificá-lo ficaria boiando o tempo todo e uma sensação de estar em outro planeta poderia atingir fatalmente meu estado de ânimo. Além disso, ganhei algo a mais ao compreender que os alfabetos na verdade foram originalmente planejados para adequadequar-se a uma língua, cada letra correspondendo exatamente ao som dos fonemas. De fato, o alfabeto latino é únivoco para o latim, e o grego para o grego, mas para tantas outras línguas, como a nossa, uma mesma sílaba pode ter diversos sons diferentes (e.g. lixo e prolixo). Esse tipo de ambiguidade muito dificilmente  acontece com essas línguas eslávicas para as quais o alfabeto cirílico foi "projetado".

De qualquer modo, muitos outros aspectos dessa cidade me fizeram ter a impressão de estar em um outro mundo. E suspeito que isso tem muito a ver com o fato de essa cidade ter pertencido a um outro universo no passado recente: o universo do mundo socialista. Mas, além de fazer algum comentários a respeito disso, não poderia deixar de expressar nesse texto minhas impressões sobre um acontecimento da vida pública e privada que testemunhei com meus próprios olhos: um casamento em uma Igreja Católica Romana. Deixarei para o leitor o trabalho de estabelecer a relação desse fato com as realidades do mundo socialista.

Assim que me instalei no hotel em Sofia, por volta das quatro horas da tarde, procurei me informar sobre a Igreja Católica de Sofia. Já sabia que havia uma lá, na região central da cidade. Na verdade, a Igreja cristã ortodoxa é maioria no país, mas há uma pequena porcentagem de católicos. Pedi ajuda à atendente do hotel e ela foi muitíssimo solícita; mesmo não sabendo onde ficava, fez uma rápida pesquisa na Internet, encontrou o endereço e me explicou como fazer para chegar lá de bonde. Parênteses: o bonde faz em Sofia o mesmo papel que o Metro faz em São Paulo, mas não imaginem que Sofia tem a mesma demanda e dinamismo que São Paulo; muito, mais muito longe mesmo está disso.      

A viagem de bonde me fez percorrer aquele cenário de pequenos prédios cinzentos, muito parecidos, modestamente dotados de beleza arquitetônica, quase todos pixados ou repletos de ilustrações proveniente da "arte" dos graviteiros. Quase todos com roupas estendidadas na varanda, mas sem o mesmo colorido e alegria de Lisboa. Alguns rapazes treinando boxe em praça pública, sem camiseta - parece ser esse um esporte muito popular no país. O calor intenso e húmido do verão lembra muito Porto Alegre na mesma época do ano. As lojinhas, mercearias, bares e restaurantes no térreo dos prédios ora dão um aspecto atrativo, ora lembram mais o comércio brega dos centros das cidades do Brasil, mas sem chegar, nem de perto, àquele nível, quase insuperável, de mau gosto. Uma ou outra construção moderna, shopping ou prédio comercial, aparece de repente, destoando do conjunto e sem oferecer nem mesmo uma beleza própria para compensar. E, de repente, uma grande construção chapada, cinzenta, larga, toda pixada com um monumento ao lado da sua imensa porta retratando uma mãe robusta e peituda com vários filhos a ela agarrados... Lembrança dos tempos "áureos" de socialismo!

Ao descer na penúltima estação (Jenski Pazar - "Mercado da mulher"), fui pedir informação a um casal de jovens que encontrei na rua. Estava seguindo a dica dada por um jovem com quem falei em inglês no bonde de que boa parte dos jovens de lá sabiam falar inglês. Disto tenho quase certeza: não deve ser muito difícil, em qualquer lugar do mundo em que se esteja, discernir dentre a multidão os jovens bem educados que provavelmente sabem falar inglês... Conseguimo-nos comunicar maravilhosamente e me explicou o melhor caminho para chegar onde queria. O rapaz era muito simpático, mas para minha decepção, e de sua namorada, perguntou-me se era verdade que as meninas do Brasil dormem de bruços para não ficar com a bunda chata. Fiz de conta que não entendi a piada, e respondi que nunca tinha ouvido tal explicação e com toda a fleuma atribui tal fenômeno à mistura afro-européia típica do Brasil. "I don't believe you have asked it", foi tudo o que disse a namorada... E tudo isso depois de dizer que estava procurando a Igreja para ir à Missa...

Muito bem, logo encontrei a Igreja, sem antes ficar bastante atordoado com o som dos sinos das seis horas, que, refletindo nas paredes dos prédios, parecia vir de todos os lados. Fenômeno físico muito interessante, 100% análogo ao fenômeno do homem que pretende confundir o seu perseguidor refletindo sua imagem em uma sala com muitos espelhos (cena típica de muitos e muitos filmes, não é verdade?). 

Aviso: nesse parágrafo, não serei irônico ou algo pior do que isso. Quando cheguei à Igreja, 17h00, um casamento tinha acabado de terminar. Era uma cena bonita, com pessoas elegantes, mas não muitas. Em um momento jogaram pétalas de flor sobre os cônjuges. Noutro reuniram-se todos para tirar uma grande foto.

Dessa vez o jovem casal que encontrei não sabia falar inglês (nota: o não, "ne", em búlgaro, é respondido com um movimento vertical da cabeça. E o sim, "da", advinhem só com que movimento é respondido...). Mas havia um placa com a tabela de horários em inglês. Para minha alegria, haveria uma Missa às 18h00! Então fiquei esperando e logo descobri que durante aquela Missa seria celebrado um outro casamento (um outro casal que sabia falar inglês me informou). Os noivos estavam do lado de fora. Um senhor americano a quem dessa vez ajudei a encontrar a informação sobre os horários da Missa não pode deixar de observar que a noiva estava bonita. E era verdade; embora a noiva não tivesse uma beleza acima do normal para um mulher, mesmo sendo alta, havia algo nela como noiva realmente belo. Pareceu-me uma noiva realmente autêntica. Seu vestido era simples, mas perfeito. Não havia uma multidão, mas aquelas pessoas que ali estavam realmente impressionavam pela elegância. Os noivos - e nós também - tiveram a sorte de contar com um excelente organista e um excelente cantor durante toda a celebração litúrgica. O jovem frei franciscano que celebrou a Missa - de casula - o fez com rigor e piedade, transmitindo paz e alegria. Cantos em latim e comunhão na boca ("Deo Gratias")! Uma senhora quis "pegar" a hóstia com a mão e foi impedida ("please wake me my Lord, I said, it must be a dream!"). Depois, ao fim da Missa, vi o confessionário sendo utilizado ("that is definitely a dream, not real world!").

A maior parte das pessoas que foram para o casamento não estavam entendendo nada do que estava acontecendo, apenas alguns poucos lá no fundo a estavam acompahando e provavelmente desses a maior parte tinha ido lá só para a Missa, como eu. Esse mesmo tipo de fenômeno é agora observado em todos os casamentos no Brasil. A diferença é que no Brasil, teoricamente, somos uma maioria de católicos. E, podemos ter certeza; transformar a Missa em um "show da Xuxa" só agrava a situação. Quem é ignorante fica mais ignorante, pois nem mesmo lhe é dada a chance de testemunhar a beleza da liturgia, e o fiel, que teve a sorte de conhecer essa beleza, acaba ficando muito frustrado. Pior para todos.

Não pude deixar de observar que as moças usavam uns penteados sofisticados muito bonitos e estavam muito elegantes, sem apelar para a sensualidade. Ao contrário do Brasil, parece que a maioria na Bulgária tem o mínimo de 'semancol' para escolher um vestido apropriado para um casamento, sem que isso diminua em nada a sua elegância (na verdade, a maiorira no Brasil tem esse "semancol", mas há umas poucas que acabam fazendo a má fama de todas). E, para ser bem sincero, elas ficam bem mais elegantes do que as que não tem "semancol". Outra coisa que não me passou despercebida foi a riqueza das fragrâncias dos perfurmes. Nunca senti algo igual antes; perfumes muito agradáveis, que não despertam a sensualidade, não são enjoativos e no entanto não se parecem com os perfurmes "para senhoras mais velhas". Como disse, nunca senti nem mesmo algo semelhante antes.        

Enfim, saí daquele pedaço de sonho, para voltar à realidade do mundo cão. E não deixei de observar alguns cães na rua, alguns grandes, que me fizeram lembrar daquelas numerosas matilhas uspianas de cachorro. Então passou pela minha cabeça que, se me perguntassem como é Sofia, por analogia, responderia: "conheces as residências universitárias das Universidades Públicas do Brasil, como o CRUSP (USP) ou a residência da Unicamp? Imagine que elas fossem uma cidade inteira; o resultado seria então uma cidade de um país socialista. Acrescenta aí algumas belas construções anteriores ao mundo socialista (Igrejas, óperas, palácios) e algum lixo descartável do mundo capitalista atual (shoppings) e você terá uma cidade como Sofia."

Por isso, me pergunto: qual é a verdadeira fonte para uma cultura capaz de desenvolver toda a potencialidade de cada ser humano? Não tenho dúvida que boa parte dos homens que construíram aquelas residências no mundo comunista o fizeram com idealismo, desejosos de ver todos desfrutando de uma moradia de qualidade. Mas o melhor que conseguiram fazer, e não por sua culpa, foi um "huge" CRUSP. Por quê?

sexta-feira, 8 de junho de 2012

"Why I am a Christian" de Henry Margenau

Esse texto, Henry Margenau, um físico que participou dos avanços da física no começo do século XX, entitulado "Why I am a Christian", contem muitos fatos interessantes. Não o divulgo por proselitismo, mas pelo interesse histórico. Até os 22 anos ele não entendia nada de física; apenas de latim. Não é por nada que Gleb Wataghin lamentou o fim do latim nas escolas. Entre muitos fatos interessantes que divulga, está o testemunho de Heisenberg, que deliberadamente impediu o desenvolvimento da bomba atômica na Alemanha. E podem ter certeza, os alemães naquela época eram melhores em física do que os americanos; eles teriam conseguido se os melhores físicos quisessem.
Vale à pena ler esse texto.
http://www.leaderu.com/truth/1truth16.html