domingo, 29 de julho de 2012

Uma reportagem surpreendente

Acabo de ver uma reportagem surpreendente na Globo News (Especial, domingo, 29/07/12, 20h30), que mostra uma entrevista do filho do Osama Bin Laden, sozinho, e depois uma entrevista com sua esposa, também sozinha. O filho, Omar, era o mais velho, querido pelo pai, mas decidiu firmemente não seguir o mesmo estilo de vida do pai. Sua esposa, procedente de uma família judia, é vinte anos mais velha do que Omar.

Omar dá um exemplo de fidelidade ao quarto mandamento (honrará pai e mãe) sem ferir, de nenhum modo, o primeiro (amarás a Deus acima de tudo) ou o quinto (não matarás)  mandamento. Ele disse claramente que é contra o ato de terrorismo do 11 de setembro. Disse que não quis para si aquele universo em que viveu o seu pai. Mas em nenhum momento condenou o pai. Mais do que isso, diz que deve amar e respeitar o seu pai.

Essa é uma prova cabal de que cada ser humano, independentemente de sua origem e dos atos dos seus pais e das pessoas próximas que o rodeiam, pode escolher, tem livre arbítrio. A consciência é soberana. Omar passou por aqueles treinamentos. Omar amou e ainda ama o seu pai. Mas apesar disso, disse não ao que em consciência julgava errado.

Depois, o depoimento de sua esposa é ainda mais surpreendente. Ela tem coragem de falar tudo sobre a sua origem. Quando questionada pelo entrevistador se não tinha medo de falar aquelas coisas, ela responde: "não tenho medo de nada". Fiquei admirado pela coragem dela. Chegou a receber ameaças de morte dos dois lados. Lembrei-me mais uma vez daquela frase "não tenhais medo" pronunciada pelo papa João Paulo II. O medo sufoca, tira a liberdade, escraviza, oprime e deprime.

sábado, 28 de julho de 2012

Não tenhais medo: lutar contra o aborto


Recentemente tive acesso a um documento que explica extensivamente o histórico das entidades empenhadas em promover o aborto no Brasil e suas redes de financiamento. Recomendo esse documento a todos os que se posicionam corajosamente a favor da vida, pois contém todas as informações que comprovam inequivocamente que o governo brasileiro está empenhado em legalizar o aborto. Esse documento foi preparado pelo pe. Paulo Ricardo, que tem se exposto corajosamente na linha de frente das batalhas a favor da vida.

O endereço que envio a seguir direcionará para a página que contém um áudio do próprio pe Paulo Ricardo com uma explicação mais sucinta do plano do governo de burlar sorrateiramente a legislação brasileira e, ao final da página, um link para o documento a que me referi:
     
http://padrepauloricardo.org/episodios/governo-dilma-prepara-se-para-implantar-aborto-no-brasil

Tenho dois breves comentários para fazer sobre o assunto. Em primeiro lugar, espanta-me dolorosamente perceber tão claramente como os grupos promotores do aborto sabem utilizar as palavras para encobrir vergonhosamente as suas verdadeiras intenções. Outro mecanismo devastador é a sua capacidade de distorcer a linguagem de modo a conseguir acusar os seus adversários dos crimes que eles mesmos cometem. Um exemplo dessa linguagem retorcida é a seguinte frase da Norma Técnica do Atendimento Humanizado ao Aborto Provocado publicado pelo governo Lula em 2005:

"A atenção humanizada às mulheres em abortamento pressupõe o respeito ao direito da mulher de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Em todo caso de abortamento, a mulher deve ser respeitada na sua liberdade, dignidade, autonomia e autoridade moral e ética para decidir, afastando-se preconceitos, estereótipos e discriminações de qualquer natureza, e evitando-se que aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher. Esta prática não é fácil, uma vez que muitos cursos de graduação e formação em serviço não têm propiciado dissociação entre os valores individuais (morais, éticos, religiosos) e a prática
profissional".

É bem verdade que a mulher tem mesmo o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Mas isso engloba tantas realidades, que questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida poderiam ser, em concreto, a decisão de se suicidar ou de cometer um homicídio. Por isso, todo o direito está acompanhado de um dever. Todos temos o direito de decidir sobre questões relacionadas ao nosso corpo e à nossa vida, mas com o dever de respeitar a justiça devida a nós e aos outros. Assim como é uma falta de justiça infinita para com o próximo praticar um homicídio, o suicídio é do mesmo modo uma falta de justiça contra si mesmo (também infinita). Portanto, além de pressupor o direito de decidir, deve-se também pressupor o dever e a responsabilidade da decisão.

Não vou entrar no mérito da questão de o feto ser ou não um ser humano dotado de direitos. Mas se há dúvida sobre tal questão, então há também a possibilidade de o feto ser realmente um ser humano, e, nesse caso, o aborto é um homicídio, por definição. Veja que no documento não há nenhuma discussão sobre isso. Todo e qualquer questionamento é simplesmente taxado de preconceitos, estereótipos e discriminações de qualquer natureza. Veja que essa linguagem tira o foco daquilo que está realmente em jogo e abafa autoritariamente toda possibilidade legítima de dissensão, pois a qualifica já de antemão como uma discriminação.

Pede-se que " aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher". Essa é uma falácia que salta aos olhos a qualquer ser humano inteligente. É absolutamente impossível, em qualquer caso, que na sua relação com outro ser humano não intervenham concomitantemente aspectos sociais, culturais, religiosos, morais. A linguagem e as atitudes de um ser humano estão sempre, sem exceção, dotadas de  aspectos sociais, culturais, religiosos, morais. É absolutamente impossível destituir o ser humano desses aspectos na relação com o outro. O que se pode fazer, isso sim, e é isso o que o documento realmente pretende, é adulterar a verdadeira fisionomia social, cultural, religiosa e moral dos profissionais de saúde a fim de adequá-la às verdadeiras intenções do discurso: induzir o profissional de saúde a antepor uma legítima objeção de consciência. É verdade que o documento em questão está tratando de recomendações para a abordagem de uma paciente no pós-aborto, mas nada pode impedir o médico de alertá-la para a injustiça do ato cometido, e até repreende-la, se ele está convencido de que se trata de uma grave falta de justiça. Por outro lado, seria de fato uma injustiça da parte do médico negar-se a socorrer alguém em estado grave em decorrência de um pós aborto.        

Esse tipo de recurso linguístico é altamente sorrateiro, na medida em que pretende aniquilar convicções induzindo aquele que aceita o discurso de que a coisa mais ética a ser feita é negar as suas próprias convicções sem se dar conta de que, na verdade, as está negando.

De todas as frases que li nesse texto, a que mais me chamou à atenção foi a última, pois deixa bem claro que uma das intenções do discurso é promover "a dissociação entre os valores individuais (morais, éticos, religiosos) e a prática
profissional". Essa intenção é de uma monstruosidade alarmante. O primeiro exemplo que me veio à imaginação de um profissional desse tipo foi o de um oficial alemão, instruído em uma educação cristã, à frente de um campo de concentração.  E depois, em sua vida privada, gentil com a esposa e zeloso na educação dos filhos. Sim, esse é um exemplo bem claro de alguém que dissociou  os seus valores individuais da prática profissional. E pode ter certeza, quem faz isso, se não acaba se corrompendo, acaba enlouquecendo.


Por último, gostaria de citar uma frase que está no Evangelho, tendo sido pronunciada por Cristo e utilizada pelo papa João Paulo II no momento em que se manifestou pela primeira vez como papa. "Não tenhais medo". A principal estratégia dos homens mal intencionados é utilizar o medo para intimidar. Fazem ameaças, a fim de calar a boca dos que apontam claramente as suas injustiças para que recebam a punição que merecem. Mas não podemos ter medo, pois, na verdade, não há motivo para temer. Para isso é necessário ter a convicção de que, ainda que possam até tirar as nossas vidas, jamais vão nos fazer escravos da mentira, da injustiça e cúmplices das suas iniquidades. É preferível ser livre até a morte, se necessário, do que escravos da mentira.              




domingo, 22 de julho de 2012

Man's Search for Meaning de Viktor E. Frankl

Estou lendo um livro fabuloso, intitulado, na tradução para o português do Brasil pela editora Vozes, "Em Busca de Sentido", de Viktor E. Frankl. O título em inglês é "Man's Search for Meaning". A edição de 1984 possui três partes. A primeira é o relato da experiência do autor como prisioneiro em um campo de concentração. A segunda parte é um resumo dos fundamentos da logoterapia. A terceira parte é um apêndice intitulado a "Tese do Otimismo Trágico".

A logoterapia é um método de psicoterapia desenvolvido por Viktor E. Frankl. Ficou conhecida como terceira escola vienense de psicoterapia, depois da psicanálise de Freud e da psicologia individual de Adler. Não vou me estender mais a respeito da logoterapia; para quem se interessar, recomendo fortemente a leitura desse livro.

Transcrevo aqui uma passagem do livro em que, através de um exemplo, Viktor Frankl mostra em que medida a psicanálise de Freud pode ser mal aplicada  para resolver as angústias que decorrem de problemas existenciais.

"Quero citar um exemplo. Um diplomata americano de alto escalão dirigiu-se a meu escritório em Viena a fim de continuar o tratamento psicoanalítico iniciado cinco anos antes com um analista de Nova Iorque. Logo de início perguntei-lhe por que ele pensava que deveria ser analisado, por que, em si, começara com a análise. Revelou-se que o paciente estava descontente com sua carreira e tinha extrema dificuldade em concordar com a política exterior dos Estados Unidos. Seu analista, no entanto, lhe havia dito repetidamente que ele devia tentar reconciliar-se com seu pai, porque o governo dos Estados Unidos bem como seus superiores eram "nada mais" que imagens paternas, e, consequentemente, a insatisfação com o seu emprego se devia ao ódio inconsciente contra o pai. Uma análise que já vinha durando cinco anos induzira o paciente a aceitar cada vez mais as interpretações de seu analista, até que, de tantas árvores de símbolos e imagens, ele não mais conseguiu ver a floresta da realidade. Após algumas poucas entrevistas, ficou claro que a sua vontade de sentido estava sendo frustrada por sua profissão e que na realidade ansiava engajar-se em uma outra espécie de trabalho. Como não tinha motivo para ele não largar sua profissão e abraçar outra, assim o fez, com os mais gratificantes resultados. Em sua nova ocupação, ele está satisfeito já faz mais de cinco anos, conforme relatou há pouco tempo. Duvido que nesse caso eu estivesse lidando com um caso neurótico, e essa é a razão por que pensei que ele não precisava de qualquer psicoterapia, nem mesmo de logoterapia, pela simples razão de, ne realidade, nem ser um paciente. Nem todo conflito é necessariamente neurótico; certa dose de conflito é normal e sadia. De forma similar, o sofrimento não é sempre um fenômeno patológico; em vez de sintoma de neurose, o sofrimento pode ser perfeitamente uma realização humana, especialmente se o sofrimento emana de frustração existencial. Eu negaria categoricamente que a busca por um sentido para a existência da pessoa, ou mesmo sua dúvida a respeito, sempre provenha de alguma doença ou mesmo resulte em doença. A frustração existencial em si mesma não é patológica ou patogênica. A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa sobre se a vida vale a pena ser vivida é uma angústia existencial, mas de forma alguma uma doença mental. É bem possível que interpretar aquela em termos desta motive um médico a soterrar o desespero existencial do seu paciente debaixo de um monte de tranquilizantes. Sua função, no entanto, é guiar o paciente através das suas crises existenciais da crescimento e desenvolvimento. "
(Viktor E. Frankl, Em Busca de Sentido, Ed Vozes, 31 Edição, p 127-128) 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Bulgária, o país das flores

Em um domingo entrei em uma van contratada pela organização da conferência para nos levar de Sofia para Kiten, uma pequena cidade na costa do mar negro, não muito longe de Istambul. O dia estava nublado, mas quente e abafado por causa da humidade. É verão na Europa, e na Bulgária faz calor. Não tão insuportável quanto o verão no Rio de Janeiro.

O trajeto perfaz uma estrada que corta o país de oeste a leste. O país é montanhoso, sobretudo a oeste, onde o território contém uma boa parcela das montanhas dos balcãs. Cadeias de montanhas rochosas de modesta altura se estendem de oeste a leste, até as proximidades do mar Negro. A estrada foi construída em um vale com belíssimos campos repletos de plantações de girassóis. As casas das vilas rurais nas proximidades da estrada são simples e pobres, mas bonitas. Tem flores nas janelas, hortas no quintal e parreiras para enfeitar a entrada das casas. Como são pobres, nem sempre contem revestimento externo, e, se tem, nem sempre são pintadas. Montanhas de feno fazem lembrar as pinturas européias dos séculos passados.    

Em Kiten, um novo cenário se revela. Ruas movimentadas, pequenos prédios de cores vivas, parque de diversão improvisado, crianças nadando nas piscinas dos hotéis... Logo chegamos à entrada do hotel. Era um prédio que se destacava na pequena cidade de Kiten com os seus onze andares. De aparência simples e pouco acabamento, tinha uma arquitetura peculiar. Esse hotel pertencente a universidade me fez lembrar muito as colônias de férias da Associação de Funcionários Públicos de São Paulo. Apenas dois elevadores para todo o hotel, sendo que: (i) um deles estava quebrado; (ii) dois era o limite máximo de ocupantes no elevador e (iii) um deles fazia apenas andares ímpares e o outro apenas andares pares e, finalmente (iv) cada andar tinha seis apartamentos cada um com quatro camas! Mas o hotel não estava lotado nem os apartamentos. Fiquei sozinho no meu apartamento, pois o meu suposto colega de quarto mudou-se para o quarto do seu amigo. Menos mal...

Mas esses são apenas detalhes... Pelo preço da conferência estava até barato. As refeições eram boas e o quarto tinha até uma varanda com um largo varal para estender as roupas. Bom, a comida na Bulgária também é peculiar, mas bastante adaptável ao paladar brasileiro. Há uma diversidade muito grande de saladas. A salada de pepino com tomate não faltou em nenhuma refeição, nem mesmo no café da manhã. Com acréscimo de um queijo branco ralado típico da Bulgária, vira a "salada Chopska". Também é muito comum encontrar carne grelhada, de todos os tipos.  Há que tomar certo cuidado, pois no caso de a carne não ser grelhada, pode ser gordurosa demais... Além disso, há que tomar cuidado com a quantidade inumerável de pequenos quiosques vendendo churrasco grego com batata frita. Não me arrisquei... Mas Bulgária é famosa também pelo seu Yogurt e o que experimentei de fato era bom. Fui informado de que existe uma variedade de bactéria típica da Bulgária para produzi-lo.   

As primeiras impressões que tive sobre a Bulgária foram totalmente contrariadas após algum tempo em Kiten. Ali, onde a liberdade de um novo mundo livre deixou o verdadeiro espírito do povo aflorar, entendi melhor qual era a verdadeira fisionomia do povo búlgaro. E o que vi me lembrou um pouco um mundo de brinquedo, de menina, talvez. Cores muito vivas, muitas vezes o cor de rosa na fachada das casas, flores nas varandas, aromas de óleos e cosméticos de rosa, letreiros com fontes chamativas e cores quentes, bares com decoração extravagante, poltronas ostensivas em vez de bancos nos bares e restaurantes. Depois de um tempo, tudo começa a parecer irreal, quase ilusório, doce demais. Em todo canto, a cada metro quadrado, havia um quiosque repleto de roupas extravagantes à moda antiga penduradas em cabides para a montagem de fotos envelhecidas. Tão artificial que chegava a ser repulsivo.

O povo búlgaro é bonito, mas sempre há exceções, como em todo o lugar. Encontra-se ali uma variedade muito grande de fenótipos, o que é reflexo da confluência muito grande de diferentes povos na região ao longo da história. Mas o perfil dominante é europeu, e não turco ou asiático. Não há dúvida; milagrosamente, os búlgaros sobreviveram a uma dominação do império turco-otomano de mais de 500 anos. Mas sobre isso voltarei a falar depois.

Pelo incrível que pareça, o Mar Negro não é negro. Suas águas esverdeadas são mais transparentes e limpas do que a média das nossas praias paulistanas. E, no verão, as águas são quentes, como a do Nordeste. Acho que não se fica muito longe da verdade ao imaginar a costa do Mar Negro como a Flórida da antiga União Soviética. Eu e mais dois estudantes vindos da Suécia, um de origem australiana e outro de origem tcheca, no Mar Negro. E imaginar que esses dois estudantes descendiam de homens que tinham sido prisioneiros de guerra... Não era só imaginação, era fato. Um dos avós do Australiano foi prisioneiro dos japoneses; era obrigado a andar agachado na frente dos soldados japoneses para não por em evidência sua superioridade em estatura; caso contrário, era castigado com tapas e humilhações.      

Um estudante búlgaro me surpreendeu ao me perguntar sobre a fábrica de motores elétricos WEG. Fiquei quase emocionado quando ele me falou sobre as qualidades desses motores, elogiando as soluções propostas por seus engenheiros e implorando por mais informações a respeito dessa empresa. Não pude dizer nada além de que ela ficava em algum lugar de Santa Catarina. Acho que se me tivesse perguntado sobre samba poderia ter-lhe dado mais informações. Era um sujeito um tanto quanto peculiar, simpático, levemente autista, apaixonado pela engenharia dos motores elétricos. De acordo com ele, a Bulgária já foi uma grande potência em motores elétricos. Ao comentar com ele sobre a impressão que tive ao conhecer Sofia, me fez ver as coisas com outra perspectiva mais uma vez. Aqueles prédios toscos, que tinham me transmitido uma impressão não muito agradável, teriam sido construídos, segundo ele, em um período de pós-guerra, quando a uma grande quantidade de migrantes do campo arruinados pela guerra foi dada um chance de reconstruir a  vida na cidade, trabalhando nas fábricas. De acordo com ele, embora os prédios não sejam lá essas coisas em beleza, são robustos o suficiente para aguentar os abalos sísmicos. Sua visão favorável ao regime socialista ficou clara; na sua perspectiva, durante seus 23 anos de vida testemunhou e assistiu o país cair em uma grande depressão e mediocridade. A admirável indústria de motores elétricos simplesmente acabou. Uma significativa parcela da população búlgara emigrou para fora. Sobraram muitos ciganos e turcos, que, de acordo com ele, formam uma sociedade a parte. A propriedade dos búlgaros estaria constantemente ameaçada pelos ciganos.

Ao entrar em uma rede de restaurante "fast food" espalhada por vários pontos do país fiquei pasmado com as fotos de mulheres sensuais seminuas espalhadas por todos os cantos. Acho que isso faria qualquer brasileiro médio corar de pudor. Que a mulher seja explorada como objeto em propagandas na civilização ocidental moderna não é novidade para ninguém, mas aquilo era descarado demais para aquele tipo de ambiente, onde a qualquer momento poderia entrar marido e mulher com seus filhos. Nas propagandas e nas ruas de Sofia, nota-se em alguns lugares, à plena luz do dia, um ambiente carregado desse tipo de comércio sujo.  Os guias que me foram distribuídos junto com o material da conferência mostravam, ao lado da propaganda de um restaurante, uma propaganda de baixo nível como se fosse a coisa mais normal do mundo. Em alguns lugares sente-se no ar um clima de hedonismo corrosivo e putrefaço. Suspeito que o mesmo ocorra em muitos outros lugares desse universo do leste europeu. E também deste universo tupiniquim.

No entanto, vi também muitas famílias jovens, com mais de um filho, passando suas férias em Kiten. Suspeito que o mundo sempre foi palco de grandes contrastes. A loucura do mundo moderno é pensar que pode relativizá-los. Ao entrar em uma loja que vendia ícones orientais e jóias, uma belíssima atendente que falava inglês comentou um pouco sobre o modo como encarava o cristianismo. Diferentemente de nós, católicos, as verdades de fé e a crença em Jesus Cristo Filho de Deus não são tão relevantes. O cristianismo é apenas uma atitude, uma roupagem indispensável para a composição da cultura búlgara. Alguns santos búlgaros, com os seus atos heróicos de defesa aos pobres e à pátria, poderiam ser colocados no mesmo patamar ou acima de Jesus. Enfim,  Jesus seria apenas mais um entre esses homens santos, admiráveis, dignos de simpatia e veneração. O que o meu amigo búlgaro fez ao comentar a respeito do assunto foi apenas generalizar aquela atitude particular; a sua impressão, na perspectiva de alguém que se declarou agnóstico, era a de que o cristianismo era encarado pela maior parte das pessoas na Bulgária apenas como uma roupagem, sem a menor influência em suas vidas.

Há ainda tantas outras coisas para falar, mas vou deixar para a próxima postagem... To be continued...