sábado, 3 de agosto de 2019

Sobre a demissão do diretor do INPE e declarações do presidente Bolsonaro

Faz um tempo que não me manifesto sobre política na minha timeline, mas aqui estou mais uma vez.

A declaração do presidente da república sobre os dados de satélite do INPE foi realmente insultuosa. Ele disse que os dados eram mentirosos, atacando assim a integridade e o profissionalismo da equipe de profissionais do INPE envolvidos no monitoramento de desmatamento.

O então diretor do INPE, o prof. Ricardo Galvão, não se limitou a argumentar contra a afirmação do presidente, mas contra-atacou. Disse que o presidente se comportava como se estivesse falando no "botequim". Comparou as palavras do presidente a uma piada de garoto de 14 anos.

Depois disso, a situação ficou insustentável. Não quero com isso fazer nenhum juízo de valor. Estou apenas constatando os fatos.

A bem da verdade, a taxa de desmatamento da Amazônia vem diminuindo ao longo dos anos desde o seu pico em 2000 (veja figura abaixo). Houve um pequeno aumento nos últimos anos. Percentualmente, esse aumento é elevado, mas ainda assim a taxa é muito menor do que era antes. Em 2019, a tendência de aumento continuou. Trata-se de um sinal amarelo, não uma evidencia catastrofista de que sob Bolsonaro a Amazônia está sendo devastada a uma velocidade sem precedentes.

Há um outro problema: todas as estatísitcas precisam ser acompanhadas de uma incerteza. Assim como nas pesquisas eleitorais, existe margem de erro. Qual a margem de erro desses dados? Infelizmente, o INPE não fornece esse dado de forma clara e explícita como nas pesquisas eleitorais.

Claramente, há um interesse de desgastar a imagem do presidente dentro e principalemte fora do Brasil, passando a idéia de que já está em curso uma grande destruição da Amazônia. Por outro lado, o presidente não tem conseguido fazer valer sua opinião política com bons argumentos.

Minha opinião: (i) o INPE tem que continuar fazendo bem o seu trabalho de monitoramento ambiental; (ii) um certo nível de desmatamento é aceitável, contanto que isso resulte em desenvolvimento social e econômico. O monitoramento é essencial, para que a sociedade possa saber o quando é desmatado e com que finalidade.