domingo, 22 de julho de 2012

Man's Search for Meaning de Viktor E. Frankl

Estou lendo um livro fabuloso, intitulado, na tradução para o português do Brasil pela editora Vozes, "Em Busca de Sentido", de Viktor E. Frankl. O título em inglês é "Man's Search for Meaning". A edição de 1984 possui três partes. A primeira é o relato da experiência do autor como prisioneiro em um campo de concentração. A segunda parte é um resumo dos fundamentos da logoterapia. A terceira parte é um apêndice intitulado a "Tese do Otimismo Trágico".

A logoterapia é um método de psicoterapia desenvolvido por Viktor E. Frankl. Ficou conhecida como terceira escola vienense de psicoterapia, depois da psicanálise de Freud e da psicologia individual de Adler. Não vou me estender mais a respeito da logoterapia; para quem se interessar, recomendo fortemente a leitura desse livro.

Transcrevo aqui uma passagem do livro em que, através de um exemplo, Viktor Frankl mostra em que medida a psicanálise de Freud pode ser mal aplicada  para resolver as angústias que decorrem de problemas existenciais.

"Quero citar um exemplo. Um diplomata americano de alto escalão dirigiu-se a meu escritório em Viena a fim de continuar o tratamento psicoanalítico iniciado cinco anos antes com um analista de Nova Iorque. Logo de início perguntei-lhe por que ele pensava que deveria ser analisado, por que, em si, começara com a análise. Revelou-se que o paciente estava descontente com sua carreira e tinha extrema dificuldade em concordar com a política exterior dos Estados Unidos. Seu analista, no entanto, lhe havia dito repetidamente que ele devia tentar reconciliar-se com seu pai, porque o governo dos Estados Unidos bem como seus superiores eram "nada mais" que imagens paternas, e, consequentemente, a insatisfação com o seu emprego se devia ao ódio inconsciente contra o pai. Uma análise que já vinha durando cinco anos induzira o paciente a aceitar cada vez mais as interpretações de seu analista, até que, de tantas árvores de símbolos e imagens, ele não mais conseguiu ver a floresta da realidade. Após algumas poucas entrevistas, ficou claro que a sua vontade de sentido estava sendo frustrada por sua profissão e que na realidade ansiava engajar-se em uma outra espécie de trabalho. Como não tinha motivo para ele não largar sua profissão e abraçar outra, assim o fez, com os mais gratificantes resultados. Em sua nova ocupação, ele está satisfeito já faz mais de cinco anos, conforme relatou há pouco tempo. Duvido que nesse caso eu estivesse lidando com um caso neurótico, e essa é a razão por que pensei que ele não precisava de qualquer psicoterapia, nem mesmo de logoterapia, pela simples razão de, ne realidade, nem ser um paciente. Nem todo conflito é necessariamente neurótico; certa dose de conflito é normal e sadia. De forma similar, o sofrimento não é sempre um fenômeno patológico; em vez de sintoma de neurose, o sofrimento pode ser perfeitamente uma realização humana, especialmente se o sofrimento emana de frustração existencial. Eu negaria categoricamente que a busca por um sentido para a existência da pessoa, ou mesmo sua dúvida a respeito, sempre provenha de alguma doença ou mesmo resulte em doença. A frustração existencial em si mesma não é patológica ou patogênica. A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa sobre se a vida vale a pena ser vivida é uma angústia existencial, mas de forma alguma uma doença mental. É bem possível que interpretar aquela em termos desta motive um médico a soterrar o desespero existencial do seu paciente debaixo de um monte de tranquilizantes. Sua função, no entanto, é guiar o paciente através das suas crises existenciais da crescimento e desenvolvimento. "
(Viktor E. Frankl, Em Busca de Sentido, Ed Vozes, 31 Edição, p 127-128) 

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