domingo, 16 de junho de 2013

Revolta da salada: revolução em direção ao caos

Não é por R$ 0,20, mas por direitos... Até agora não li em nenhum lugar quais são os direitos reivindicados por esse movimento que tomou as ruas da capital de São Paulo na semana passada. Se alguém me puder fazer o favor de me encaminhar um documento que contenha uma explicação disso tudo, pelo menos teria alguma matéria com relação a qual poderia discordar ou concordar. Por enquanto, tudo isso parece pouco racional e muito primitivo.

A leitura que faço dos fatos é a seguinte. A maioria realmente não pensa no que está fazendo. São movidos pelos efeitos de uma propaganda que apela em última instância para a vaidade e para a desordem de todas as outras paixões humanas. Nada difícil de compreender: em sua maioria, essas pessoas foram submetidas a uma formação que evitou, a todo custo, ensinar a necessidade da virtude.

Essa propaganda produz nessas almas ingênuas a ilusão de que estão mudando o mundo e contribuindo positivamente para a história. A velha guarda que pensa que os movimentos de 68 e outras tantas revoluções culturais das quais participaram foi algo diferente do que aconteceu na semana passada, argumentando que aquelas foram legítimas e essas que estão acontecendo não são, não aprendeu nada. Ficaram velhos, mas ainda dominados pelas paixões, só conseguem enxergar o mundo na perspectiva dos interesses próprios.

Essa turma da velha guarda acha que mudou o mundo para melhor e se indigna de ver que a juventude não reconhece as grandes benesses que propiciaram com as mudanças que conquistaram. Não mudaram nada, pois não há nada que possa ser mudado no mundo de fora, se antes cada um não resolve mudar o seu mundo de dentro. Quando se é jovem, em geral não se pode  desfrutar da posse de bens materiais, que só vem com o tempo, à medida que o trabalho vai gerando frutos e as circunstâncias vão permitindo posições de maior responsabilidade. O jovem, motivado por essas paixões desordenadas, desejaria para si a posse do que apenas uma vida inteira pode dar. E é lógico, na perspectiva das paixões, pois essa posse permitiria dar vazão a todos os ímpetos que ficam limitados pela sua dependência.

Os velhos, esquecidos da etapa anterior, tem agora o que desejaram quando jovens, mas não tem mais a juventude e ainda se esqueceram que foram jovens um dia! Todo o conflito, no final de contas, resulta do embate de interesses que por alguma razão se contrariam mutuamente. Os velhos quereriam ser jovens de novo e chegam a esperar a compreensão e obediência da juventude. Os jovens, arrastando ainda a casquinha do ovo, chegam a acreditar que são melhores do que todas as gerações que os precederam e que agora são oprimidos pelos anciãos da sociedade.

Esse processo é um movimento que tem ocorrido repetidamente na nossa história. Na realidade, tudo isso é resultado do jogo que as paixões produzem no âmago da natureza humana nas suas diversas etapas da vida. Esse ímpetos, quando abandonados às suas próprias forças, produzem o caos. Esse caos piora o mundo em vez de melhorá-lo. Eis a grande ilusão: essa gente, quando faz essas manifestações, está botando para fora o seu caos interior e gerando caos exterior. Estão piorando o mundo em vez de melhorá-lo. Eles tem toda razão quando escrevem "desculpem o transtorno, estamos mudando o mundo". Estão de fato mudando o mundo, para pior, introduzindo mais caos, gerando dor e sofrimento.

 O único movimento revolucionário que pode realmente mudar o mundo é a decisão pessoal de mudar antes a si mesmo. Esse movimento revolucionário acontece e as almas que tem a coragem de tomar essa iniciativa são bem aventuradas. Mas há tantos e tantas que passam a vida inteira acreditando que os seus problemas são causados pelo que vem de fora. Serão eternamente rebeldes e inconformados, pobres criaturas, incapazes de perceber que as únicas culpadas pela sua infelicidade são elas mesmas.    

Em poucas palavras, não há a menor diferença entre um intelectual que tenta desligitimizar esse movimento em rede nacional e sustenta ao mesmo tempo as revoluções de seu tempo de juventude, e um jovem que vai às ruas protestar disposto a espalhar a destruição. São igualmente motivados pelas suas paixões desordenadas. A única diferença é que tais paixões se manifestam de modo distinto em função da etapa da vida. No entanto, a revolução que realmente teria sido necessária, isto é, a reforma do homem interior, com a construção das virtudes que educam as paixões desordenadas e eleva o homem para além da esfera dos seus interesses primitivos, nunca foi realmente empreendida nessas almas.
   

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