domingo, 4 de novembro de 2012

A frustração do amor

Todo ser humano tem uma necessidade primordial do amor incondicional, esperando-o e buscando-o sem cessar. Sendo uma necessidade latente, ainda que mais intensa e abrangente que todas as outras, de alguma forma abarcando-as todas, impulsiona o homem a uma busca incessante capaz de suscitar todo o seu potencial de criação e destruição.

A primeira experiência de amor incondicional acontece na família, quando aqueles que se responsabilizam pela criança respondem positivamente ao dever de amá-la. A frustração do amor nesse momento da vida de um ser humano tem um efeito devastador na alma, conduzindo-a a uma amargura e revolta que convertem o seu potencial de criação em energia apta à destruição de si e do mundo a sua volta. De todas as faltas de responsabilidade dos pais, a mais ímpia e cruel é o aborto. Aquela criança, a quem os pais teriam a responsabilidade de prover a primeira experiência de amor, tem a vida tolhida por ser considerada indesejada. Um ser humano abortado sofre duas tristes experiências de desamor: ser indesejado e destruído.

Essa primeira experiência do amor incondicional é imperfeita, pois, à rigor, esse amor não pode ser incondicional. Há um limite para o amor que um ser humano pode oferecer ao outro. A criança percebe que participa de uma comunhão de amor na qual não só ela necessita de atenção, mas também todos de sua família. Nesse processo, entende que nem sempre terá sua carência satisfeita, ao mesmo tempo que, se bem educada, perceberá que ela pode dar amor a quem tem carência dele.

O término dessa primeira experiência é a abertura da alma para uma nova experiência de amor, ainda movida por aquela necessidade primordial. Tendo recebido a primeira experiência de ser querido por si mesmo, percebe o potencial que existe dentro de si para amar o outro e reconhece em si a dignidade de quem pode ser amado. Deseja a entrega de si, ao mesmo tempo que espera a entrega incondicional do outro, para que possa dar-se sem reservas. Essa segunda experiência se concretiza no matrimônio entre um homem e uma mulher.            

Nesse processo, a possibilidade de frustrações é tão grande quanto a de conseqüências imprevisíveis e violentas. Todas elas se resumem em poucas palavras: a experiência de ter o amor rejeitado pelo outro. Dessa experiência não escapam nem mesmo aqueles que se casaram com o seu primeiro enamorado, pois, com o passar do tempo, revelam-se claramente as imperfeições da criatura amada, e a rejeição mútua põe à mostra a fragilidade daquele amor.

A frustração do amor acontece com todos os seres humanos e como consequência todos padecem de um sofrimento interior nas raízes mais profundas da alma. Uma das saídas para esse sofrimento é a revolta, que  se concretiza nas mais diversas formas de auto-destruição. Todo pecado é um exemplo dessa forma de auto-destruição que tem como origem essa frustração. Mas há outra saída para o sofrimento. Não é uma saída que leva à sua supressão, mas a uma compreensão vital do seu sentido. A alma entende a sua imperfeição e sua carência e reconhece em Deus a única fonte que pode saciá-la.      




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