segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O pecado, os pecadores e os condenados

Se Deus é Misericordioso e Bom, como é possível então que Ele consinta com o terrível suplício eterno das almas condenadas? Essa é uma questão frequentemente dirigida pelos que não possuem a Fé nos Evangelhos.

Também para mim é uma questão difícil. Santa Teresa D'Àvila descrevia o inferno como um lugar onde se tem a sensação de estar morrendo a todo momento. Sem cessar e para sempre. Por ser tão aterradora, essa realidade nos parece absurda.

À primeira vista, parece que o inferno é totalmente incompatível com a noção de um Deus Bom e Misericordioso. Se Deus é Bom, então Ele não deveria permitir que ninguém sofresse. Desde o instante inicial, todas as suas criaturas deveriam gozar de delícias sem fim especialmente preparadas para elas.

Mas se fosse assim, quem poderia dizer-se realmente livre? Ninguém, pois seriam todas as criaturas meros títeres nas mãos de Deus. Títeres não amam, apenas respondem automaticamente a estímulos.

Pelo que nos revelam as Sagradas Escrituras em Genesis, o projeto inicial era mesmo que os homens desfrutassem de uma vida sem sofrimentos, no jardim do Éden. Mas foi deixada uma possibilidade à liberdade do homem. Não me refiro à liberdade que Adão e Eva tinham de ora comer uma laranja, ora uma maçã. Mas à liberdade de amar a Deus. Pois quem ama, confia. Se amassem, jamais teriam duvidado de Deus. Jamais teriam acreditado que Deus estava querendo lhes trapacear.

O sofrimento humano nasceu no mundo e permanece no mundo por causa do pecado. Para vencê-lo, é necessário fazer o caminho inverso: confiar em Deus, apesar do sofrimento. Cristo abriu essa via, vencendo o pecado, quando, confiando em Deus, foi fiel até o último instante. Se a queda da humanidade foi consequência da desobediência, a sua salvação foi conquistada pela obediência. 

Depois da queda original, fazer o bem em situações concretas pode exigir sofrimentos pessoais. Nesses casos, perseverar no bem exige confiança em Deus, a mesma confiança que os nossos primeiros país deveriam ter conservado. 

E o que dizer dos que não estão dispostos a assumir esses sofrimentos pessoais? Nas situações concretas, são inúmeras as vezes em que rejeitamos o bem por fraqueza. É possível reconhecer, pedir perdão e tentar o sucesso nas próximas vezes. Se, apesar do fracasso, há um reconhecimento sincero das faltas pessoais e o propósito de continuar buscando o bem, ainda existe uma confiança sincera em Deus.

Sobram ainda os que não estão dispostos a assumir esses sofrimentos pessoais por não acreditar que exista um bem maior do que o seu prazer. Nesse caso, já fizeram a sua opção. A opção por não amar a Deus, não querer o Bem e não buscar a Verdade. 

Ao entrar na eternidade, levam consigo suas convicções, sacramentadas pelos atos de suas vidas. Já não há novas opções a serem feitas. Não é Deus que as condenam: são elas mesmas que escolhem o seu destino e escrevem a sua sentença. 

Mas não seria o suplício do inferno suficiente para movê-las ao arrependimento?  Não. Para se arrepender, é necessário sentir-se condoído dos que foram injustiçados pelas más ações. Esse é o verdadeiro arrependimento.  O que elas têm é um desejo de sair do suplício. Somente para se livrar do suplício é que desejariam não ter realizado aquelas más ações. Nesse arrependimento não há nenhum outro ingrediente que não seja o amor próprio.  Além disso, o arrependimento na caridade é também  uma graça: o inferno está, por definição, privado dela. 

Não é que Deus não queira ser Misericordioso com a alma dos condenadas pertinazes; na verdade, são esses que não quiseram recorrer à Misericórdia divina. Quem não quiser ser perdoado, não será.

Ninguém pode ter certeza de que será salvo. Isso seria pecar por presunção. No entanto, podemos nos confortar na certeza de que Deus não despreza um pecador realmente arrependido.






  


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