domingo, 16 de dezembro de 2012

Monster

Os desentendimentos e conflitos entre o homem e a mulher sempre existiram e estão impressos nos costumes de todas as culturas humanas. As razões por trás desses conflitos são bastantes complexas e não podem ser reduzidas a uma única e simples explicação, como a bem conhecida tese de cunho marxista que transpõe a luta de classes na sociedade para o âmbito da relação entre homem e mulher. Existem outros elementos muito mais relevantes para a explicação desse fenômeno, pois a psicologia e a natureza animal e espiritual do ser humano precedem a sociologia na ordem das causas.

Esse conflito entre homem e mulher constitui uma das maiores tragédias que tem afligido constantemente e sem cessar toda a humanidade. É trágico pois a forte necessidade de reciprocidade entre os sexos fica frustrada, gerando um enorme descontentamento que se projeta para além da esfera pessoal e atinge toda a sociedade. Uma sociedade não pode ser saudável sem a harmonia nas relações entre homens e mulheres.

Há muitas facetas e sintomas dessa doença em nossa sociedade, e por enquanto gostaria de me restringir a apenas uma delas. Ultimamente, não tem sido nada incomum encontrar pessoas dominadas por um ódio generalizado pelo sexo oposto A razão para esse fenômeno é o que em um post anterior designei de frustração do amor.

Pela sua própria natureza, o ser humano encontra na pessoa do sexo oposto o receptáculo para todo o seu potencial afetivo. Em outras palavras, ele tem a expectativa de encontrar um outro a quem possa entregar a si mesmo sem reservas, recuperando-se a si ao receber também sem reservas aquele a quem se entregou.

No entanto, boa parte de nossa sociedade se tornou descrente da possibilidade da existência desse outro. Ninguém mais acredita em "princípes encantados" ou em "belas adormecidas". Na realidade, todos em algum dia de suas vidas acreditaram sim em seu "princípe encantado" e em sua "bela adormecida". Porém, a frustração dessa expectativa, que sempre existiu, mas que hoje em dia é mais comum devido à forte presença do egoísmo na sociedade atual, leva as pessoas à descrença total na lealdade do sexo oposto. Frases do tipo "os homens não prestam" ou "toda mulher é vagabunda" refletem essa frustração.

Essa frustração pode adquirir contornos realmente trágicos. Entre os homens, o ressentimento e o ódio tem frequentemente os conduzido à violência brutal contra a mulher. No caso das mulheres, o mesmo ressentimento as conduzem a um desprezo que não perde nenhuma oportunidade para aniquilar o homem afetivamente frágil que cai nas suas garras.

Essas matanças de pessoas inocentes empreendidas por homens armados tem a mesma raiz, que é essa frustração do amor agravada e jamais superada. Essa é uma tese forte, que não vou provar agora, mas que em algum momento pretendo discutir com maior detalhe. Limito-me a apontar alguns indícios. O assassino do realengo, por exemplo, foi seletivo ao escolher as suas vítimas, meninas. Recentemente, a polícia impediu uma ação de dois jovens indivíduos que pretendiam explodir uma bomba em uma festa cheia de estudantes universitárias de humanidades "pra-frentex". Breivik, da Noruega, carrega uma clara frustração que remete aos traumas da sua infância relacionados com a ruptura de sua família.

Pensando sobre o assunto, lembrei-me de um filme que retrata a história real de uma prostituta que realizou assassinatos em série. O filme se chama Monster e não o recomendo para ninguém, apesar de retratar uma realidade que ensina muito sobre aqueles efeitos trágicos a que me referi. Aquela prostituta foi pouco a pouco acumulando um enorme ódio contra os homens em geral. Isso é 100% compreensível, pois se uma mulher não tem a experiência do encontro com homens verdadeiramente ternos e desinteressados, capazes de amar, e é constantemente tratada por eles como um objeto descartável, então entendo o seu ódio. Mas o ponto alto do filme acontece quando a prostituta encontra um homem que na verdade apenas se dipôs a lhe dar uma carona e não tinha a menor intenção de usá-la. Aquela mulher, mesmo percebendo a boa intenção do homem, decide assassiná-lo, levando o seu carro e o seu dinheiro.

O encontro com um homem realmente desinteressado não foi capaz de humanizar o seu coração já há muito tempo endurecido. Como o seu coração de mulher tinha essa necessidade de amar e ser amado, ela encontra em uma parceira do mesmo sexo essa pessoa com quem possa desenvolver todo o seu potencial afetivo. O filme mostra que na relação com essa outra pessoa, aquele "monstro" se transforma em uma mãe terna e boa. Ou seja, na incapacidade de entrega a um homem, que seria o único modo natural e verdadeiro de encontrar a felicidade relacional, ela tem de transpor esse desejo frustrado de realização a um relacionamento postiço e artificial com uma outra mulher. Aquele acontecimento simboliza o estágio desse processo; ela preferiu matar um homem que se dispôs a ajudá-la e utilizar o espólio para nutrir um relacionamento vicioso que a mantinha naquela situação miserável.

Hoje entendo bem por que motivo São João Batista e depois Jesus Cristo moveram muitas prostitutas à conversão. Neles, e de maneira muito contundente em Jesus, elas encontraram um homem terno, desinteressado e casto que as acolheu sem massacrá-las com acusações e penalizações pelos seus pecados. A verdadeira imagem do homem rehumanizou o coração daquelas mulheres e as recordou da sua vocação para o Amor. Não é nada indiferente o fato de Jesus ter se deixado tocar pela pecadora arrependida. Mas isso já é algo que mereceria um tratamento muito especial em algum outro post...             

   

      


           

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