sábado, 1 de dezembro de 2012

Separará uns dos outros

Há uma passagem do Evangelho que sempre me deixou bastante intrigado e desde o início tem me causado uma surpresa positiva. Trata-se da passagem de São Mateus em que Jesus fala sobre a separação entre os homens no juízo final (Mt 25, 31-46). Nessa passagem Jesus deixa claro qual será o critério de separação entre os homens. E, para minha surpresa, Jesus não separa os homens entre os observantes da lei e os transgressores, mas sim os separa entre aqueles que praticaram obras de misericórdia ("tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes beber")  e os que nunca a praticaram.

Ao longo da minha caminhada tenho observado que muitos de nós estamos muito mais preocupados em observar os mandamentos do que praticar as obras de misericórdia. Tantas vezes me decepcionei ao testemunhar que pessoas que fazem oração diária, vão à Missa todos os dias e vivem escrupulosamente todos os preceitos da lei, tantas vezes olham com completa indiferença ou até desprezo a esses pequeninos a que Jesus se refere.

A realidade nos mostra que esses pequeninos nem sempre são pessoas agradáveis. Um mendigo em situação de necessidade não é alguém agradável. Estará cheirando mal, poderá ser rude no trato e extremamente inconveniente. Mas se está passando sede ou frio, e há a possibilidade de remediar a sua situação, todos esses inconvenientes não são desculpas válidas para que um cristão deixe de oferecer ajuda.

Algumas pessoas se enganam achando que um dia toparão com um galã perfumado e bem educado, sedento e faminto, implorando meigamente por socorro. Isso não existe no mundo real. No mundo real, os necessitados às vezes também reagem com rudeza, ingratidão e até com maldade àqueles que oferecem ajuda.

Há alguns anos atrás ouvi uma pequena história que me tem feito pensar sobre a atitude de alguns cristãos.    

Em uma cidade perdida em um país distante havia uma família cristã que construiu uma grande casa para os seus jovens filhos. Todos viviam bem ali e praticavam os preceitos da sua religião na mais escrupulosa observância. Havia um belo jardim no pátio de entrada da casa, mas certo dia a pureza daquele local foi atormentada pela presença inconveniente de um mendigo que ali se instalou. Não sabendo como reagir diante daquela situação, um dos filhos teve a brilhante idéia de jogar sobre o homem um balde de gelo. Se recuperando do choque, o mendigo bradou: "vocês são judeus, não cristãos!".

Aquele mendigo não poderia ter sido mais preciso. Aqueles filhos estavam muito preocupados em observar as leis, mas nenhum deles soube olhar para aquele mendigo com o olhar de Cristo. Podemos imaginar como a mãe do mendigo o olharia na situação. Uma coisa é certa: o olhar de Cristo seria ainda mais compassivo do que o da mãe.

A história continua. Um outro filho, compadecido da situação do mendigo, foi conversar com aquele homem. Explicou a situação para ele e deu atenção ao que o mendigo dizia, que  apesar de tudo continuava sendo insistente e teimoso. Por fim, convenceu o mendigo a ir para um abrigo e o levou para lá.

É triste dizer isso, mas a primeira parte da história é verídica; a segunda, fictícia.               

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